Homens, vamos
agora à conversa mais séria e importante da vida de todos nós. Vivemos hoje
numa sociedade em que a banalização da opressão é regra. E muitos de nós até
temos consciência disso. Mas não é suficiente. E, enquanto vivermos nesse
modelo de sociedade, nunca será. Os que não têm consciência tem a probabilidade
maior de praticarem atos sexistas? Teoricamente, isso deveria ser concreto. Mas
não é. Muitos de nós, centralmente os militantes de esquerda, bradam discursos
contra as opressões e apontam detalhes de ações machistas com precisão. Ao
mesmo tempo, muitos de nós acreditamos que, por termos essa consciência,
estamos apartados do grupo dos homens “machistas desprezíveis”; somos
diferentes. É aí que começa o grande problema.
Basta
negarmos que somos homens inseridos
numa sociedade machista para colocarmos lenha em uma pequena chama opressora
dentro de nós. Chama esta que facilmente pode ser a causadora de um pavoroso
incêndio. Digo isso por experiência própria e, por mais doloroso que seja
revelar isso, é essencial para a conclusão. Ao negarmos, particularmente, nossa
“participação” social no sexismo, deixamos de nos observar e passamos apenas a
condenar os atos de outros. Assim, quando observamos outro homem discutindo com
uma mulher na rua e levantando a voz, nos enchemos de razão para o colocarmos
como opressor. Mas, por não nos observarmos em nada – porque achamos que não
precisamos – fazemos o mesmo e não chegamos nem perto de perceber.
Os
que tem aquela chamada consciência também sabem que a opressão tende a se
construir de maneira crescente. Ou seja, o esposo que hoje bate na esposa,
amanhã talvez a mate. E, novamente, os homens “conscientes” não estão excluídos
disso. Ao deixarmos de lado nossa autoavaliação, nos tornamos zumbis incapazes
de enxergar suas próprias monstruosidades. Podemos agir das maneiras mais
brutais e opressoras e, depois, nem sequer nos lembrarmos. Simplesmente porque,
por termos a certeza da impossibilidade de acontecer conosco, colocamos nossas
ações num plano virtual inatingível. Doença. Todos os homens podemos em algum
momento nos olharmos no espelho e observarmos aquele que tanto desprezamos. Mas
é possível lutar para evitar que isso aconteça.
Antes
de tudo, nunca, em hipótese alguma, podemos negar que aquela pequena chama
opressora existe – hoje – dentro de absolutamente todos os homens, sejam eles
heterossexuais, gays, bissexuais, transexuais, travestis ou transgêneros.
Pronto? Passada, essa primeira etapa, começa então a segunda e eterna. A luta
no dia-a-dia para apagarmos essa chama em nós mesmos e, obviamente, nos outros.
Nós nunca estaremos “curados” do machismo enquanto vivermos nessa sociedade. É
tarefa de cada homem, então, se colocar em constante avaliação e reavaliação.
Acordarmos e termos todos os dias a consciência de que aquele será mais um dia
de combate ao machismo, independente de onde estivermos e para onde formos;
assim como, todos os dias, as mulheres acordam e sabem que independente de onde
estiverem e para onde forem ainda não deixarão de ser oprimidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário