terça-feira, abril 22, 2014

Alerta aos machistas feministas- Por Pedro Camilo Modelo

Homens, vamos agora à conversa mais séria e importante da vida de todos nós. Vivemos hoje numa sociedade em que a banalização da opressão é regra. E muitos de nós até temos consciência disso. Mas não é suficiente. E, enquanto vivermos nesse modelo de sociedade, nunca será. Os que não têm consciência tem a probabilidade maior de praticarem atos sexistas? Teoricamente, isso deveria ser concreto. Mas não é. Muitos de nós, centralmente os militantes de esquerda, bradam discursos contra as opressões e apontam detalhes de ações machistas com precisão. Ao mesmo tempo, muitos de nós acreditamos que, por termos essa consciência, estamos apartados do grupo dos homens “machistas desprezíveis”; somos diferentes. É aí que começa o grande problema.
                Basta negarmos que somos homens inseridos numa sociedade machista para colocarmos lenha em uma pequena chama opressora dentro de nós. Chama esta que facilmente pode ser a causadora de um pavoroso incêndio. Digo isso por experiência própria e, por mais doloroso que seja revelar isso, é essencial para a conclusão. Ao negarmos, particularmente, nossa “participação” social no sexismo, deixamos de nos observar e passamos apenas a condenar os atos de outros. Assim, quando observamos outro homem discutindo com uma mulher na rua e levantando a voz, nos enchemos de razão para o colocarmos como opressor. Mas, por não nos observarmos em nada – porque achamos que não precisamos – fazemos o mesmo e não chegamos nem perto de perceber.
                Os que tem aquela chamada consciência também sabem que a opressão tende a se construir de maneira crescente. Ou seja, o esposo que hoje bate na esposa, amanhã talvez a mate. E, novamente, os homens “conscientes” não estão excluídos disso. Ao deixarmos de lado nossa autoavaliação, nos tornamos zumbis incapazes de enxergar suas próprias monstruosidades. Podemos agir das maneiras mais brutais e opressoras e, depois, nem sequer nos lembrarmos. Simplesmente porque, por termos a certeza da impossibilidade de acontecer conosco, colocamos nossas ações num plano virtual inatingível. Doença. Todos os homens podemos em algum momento nos olharmos no espelho e observarmos aquele que tanto desprezamos. Mas é possível lutar para evitar que isso aconteça.
                Antes de tudo, nunca, em hipótese alguma, podemos negar que aquela pequena chama opressora existe – hoje – dentro de absolutamente todos os homens, sejam eles heterossexuais, gays, bissexuais, transexuais, travestis ou transgêneros. Pronto? Passada, essa primeira etapa, começa então a segunda e eterna. A luta no dia-a-dia para apagarmos essa chama em nós mesmos e, obviamente, nos outros. Nós nunca estaremos “curados” do machismo enquanto vivermos nessa sociedade. É tarefa de cada homem, então, se colocar em constante avaliação e reavaliação. Acordarmos e termos todos os dias a consciência de que aquele será mais um dia de combate ao machismo, independente de onde estivermos e para onde formos; assim como, todos os dias, as mulheres acordam e sabem que independente de onde estiverem e para onde forem ainda não deixarão de ser oprimidas.


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