Em discurso no plenário da Câmara, o líder do PSOL, deputado Chico Alencar, nesta terça-feira 15, destacou o tema da Campanha da Fraternidade 2011: Fraternidade e Vida no Planeta.
Leia a íntegra do discurso.
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados e todo(a)s o(a)s que assistem a esta sessão ou nela trabalham:
Desde 1964 os cristãos brasileiros celebram a Campanha da Fraternidade no período da Quaresma. É tempo de oração, olhar e agir para o próximo, escutar o corpo, o espírito e o psíquico. Num movimento de superação de qualquer dicotomia entre fé e vida, os cristãos convidam toda a sociedade para a reflexão de temas fundamentais.
Este ano a Campanha da Fraternidade tem por tema a fraternidade e a vida no planeta , que como ressalta Dom Orani, Arcebispo do Rio de Janeiro: questiona a nossa vida e nossas opções quando verificamos que a criação geme em dores de parto (Rom 8,22), supondo a coragem de acolhermos o chamado à conversão para uma vida mais sóbria e humana. A tragédia no Japão, com suas cores cinzentas cada vez mais dramáticas, não pode nos deixar inertes.
A primeira vez que a Campanha da Fraternidade se dedicou ao tema da ecologia foi em 1979, com o lema ´Preserve o que é de todos. Em 2002, veio a Campanha que alertou sobre a Amazônia; dois anos depois, a Campanha de 2004 trabalhou a questão da água, e a Campanha de 2007 discutiu o tema Fraternidade e os Povos Indígenas, e com ênfase na questão da terra e dos seus cuidados.
Vivemos uma crise ambiental resultado da incompatibilidade dos tempos acelerados do produtivismo capitalista, com sua necessidade crescente de lucro e consumo, e os tempos mais lentos da natureza: os ritmos da vida e da biosfera são modulados por processos físico-químicos e biológicos que não se submetem ao ritmo do mercado. Com a Campanha que se inicia, as Igrejas e a sociedade terão uma nova oportunidade para refletir sobre a biodiversidade, o aquecimento global, o uso da energia, a preservação da Amazônia, a produção de alimentos.
A Campanha da Fraternidade nos convida a pensarmos ações concretas para reverter este quadro nos níveis pessoal, comunitário e de governo. Não podemos seguir vivendo uma crônica de catástrofes anunciadas, como ressaltou, em brilhante texto, publicado em O Estado de São Paulo em 23/01/11, que registro nos Anais da Casa, o professor da Universidade da Califórnia e Membro da Academia Nacional de Ciências e da Sociedade Filosófica Americana, Jared Diamond:
Os cinco fatores que levo em consideração ao tentar entender por que uma sociedade é mais ou menos propícia a entrar em colapso são, em primeiro lugar, o impacto do homem sobre o meio ambiente. (...)
O segundo fator é a mudança no clima local. Atualmente, essa mudança é global, e resultado principalmente da queima de combustíveis fósseis. O terceiro fator são os inimigos que podem enfraquecer ou conquistar um país. O quarto são os aliados. A maioria dos países hoje depende de parceiros comerciais para a importação de recursos essenciais. Quando nossos aliados enfrentam problemas e não são mais capazes de fornecer recursos, isso nos enfraquece. (...)
O último fator recai sobre a capacidade das instituições políticas e econômicas de perceber quando o país está passando por problemas, entender suas causas e criar meios para resolvê-los. (...)
Não há segredo sobre quais são os problemas: a queima exagerada de combustíveis fósseis, a superexploração dos pesqueiros no mundo, a destruição das florestas, e exploração demasiada das reservas de água e o despejo de produtos tóxicos. (...)
É a primeira vez na história que enfrentamos o risco de o mundo inteiro entrar em colapso. Hoje, até mesmo quando um país remoto, como a Somália ou o Afeganistão, entra em colapso, isso repercute ao redor do mundo. (...)
O argumento de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje sejam apenas naturais é simplesmente ridículo. Tanto como aquele que nega a evolução das espécies. As evidências de que tais mudanças se devem a causas humanas são irrefutáveis. Os anos mais quentes registrados em centenas de anos se concentram nos últimos cinco que passaram. O planeta já enfrentou flutuações de temperatura no passado, mas nunca nos padrões registrados hoje.
Precisamos estar preparados para um número cada vez maior de tragédias humanas relacionadas a mudanças climáticas. O clima se tornará mais variável. O úmido será mais úmido e o seco, mais seco. (...)
O modo de vida do mundo não está em harmonia com as condições naturais deste próprio mundo. (...)
Agradeço a atenção.
Desde 1964 os cristãos brasileiros celebram a Campanha da Fraternidade no período da Quaresma. É tempo de oração, olhar e agir para o próximo, escutar o corpo, o espírito e o psíquico. Num movimento de superação de qualquer dicotomia entre fé e vida, os cristãos convidam toda a sociedade para a reflexão de temas fundamentais.
Este ano a Campanha da Fraternidade tem por tema a fraternidade e a vida no planeta , que como ressalta Dom Orani, Arcebispo do Rio de Janeiro: questiona a nossa vida e nossas opções quando verificamos que a criação geme em dores de parto (Rom 8,22), supondo a coragem de acolhermos o chamado à conversão para uma vida mais sóbria e humana. A tragédia no Japão, com suas cores cinzentas cada vez mais dramáticas, não pode nos deixar inertes.
A primeira vez que a Campanha da Fraternidade se dedicou ao tema da ecologia foi em 1979, com o lema ´Preserve o que é de todos. Em 2002, veio a Campanha que alertou sobre a Amazônia; dois anos depois, a Campanha de 2004 trabalhou a questão da água, e a Campanha de 2007 discutiu o tema Fraternidade e os Povos Indígenas, e com ênfase na questão da terra e dos seus cuidados.
Vivemos uma crise ambiental resultado da incompatibilidade dos tempos acelerados do produtivismo capitalista, com sua necessidade crescente de lucro e consumo, e os tempos mais lentos da natureza: os ritmos da vida e da biosfera são modulados por processos físico-químicos e biológicos que não se submetem ao ritmo do mercado. Com a Campanha que se inicia, as Igrejas e a sociedade terão uma nova oportunidade para refletir sobre a biodiversidade, o aquecimento global, o uso da energia, a preservação da Amazônia, a produção de alimentos.
A Campanha da Fraternidade nos convida a pensarmos ações concretas para reverter este quadro nos níveis pessoal, comunitário e de governo. Não podemos seguir vivendo uma crônica de catástrofes anunciadas, como ressaltou, em brilhante texto, publicado em O Estado de São Paulo em 23/01/11, que registro nos Anais da Casa, o professor da Universidade da Califórnia e Membro da Academia Nacional de Ciências e da Sociedade Filosófica Americana, Jared Diamond:
Os cinco fatores que levo em consideração ao tentar entender por que uma sociedade é mais ou menos propícia a entrar em colapso são, em primeiro lugar, o impacto do homem sobre o meio ambiente. (...)
O segundo fator é a mudança no clima local. Atualmente, essa mudança é global, e resultado principalmente da queima de combustíveis fósseis. O terceiro fator são os inimigos que podem enfraquecer ou conquistar um país. O quarto são os aliados. A maioria dos países hoje depende de parceiros comerciais para a importação de recursos essenciais. Quando nossos aliados enfrentam problemas e não são mais capazes de fornecer recursos, isso nos enfraquece. (...)
O último fator recai sobre a capacidade das instituições políticas e econômicas de perceber quando o país está passando por problemas, entender suas causas e criar meios para resolvê-los. (...)
Não há segredo sobre quais são os problemas: a queima exagerada de combustíveis fósseis, a superexploração dos pesqueiros no mundo, a destruição das florestas, e exploração demasiada das reservas de água e o despejo de produtos tóxicos. (...)
É a primeira vez na história que enfrentamos o risco de o mundo inteiro entrar em colapso. Hoje, até mesmo quando um país remoto, como a Somália ou o Afeganistão, entra em colapso, isso repercute ao redor do mundo. (...)
O argumento de que as mudanças climáticas que estamos presenciando hoje sejam apenas naturais é simplesmente ridículo. Tanto como aquele que nega a evolução das espécies. As evidências de que tais mudanças se devem a causas humanas são irrefutáveis. Os anos mais quentes registrados em centenas de anos se concentram nos últimos cinco que passaram. O planeta já enfrentou flutuações de temperatura no passado, mas nunca nos padrões registrados hoje.
Precisamos estar preparados para um número cada vez maior de tragédias humanas relacionadas a mudanças climáticas. O clima se tornará mais variável. O úmido será mais úmido e o seco, mais seco. (...)
O modo de vida do mundo não está em harmonia com as condições naturais deste próprio mundo. (...)
Agradeço a atenção.