terça-feira, fevereiro 01, 2011

PSOL lança candidato a presidência do Senado contra José Sarney

Ciente de suas limitações, Randolfe se autodefine como um “anticandidato”. Compara-se a um velho ícone do ex-PMDB: “Nós carregamos o simbolismo de uma anticandidatura. Navegamos nas mesmas águas que Ulysses Guimarães navegou”.
Formado em História, o senador Randolfe alude um verbete da enciclopédia referente a 1973, ano em que o Brasil respirava os ares da ditadura. Nessa época, Ulysses liderava um PMDB que ainda se chamava MDB. Sarney militava na Arena, o partido do regime militar. Ulysses lançou-se na corrida presidencial. Sabendo-se derrotado, discursou assim na convenção do MDB, em 23 de setembro de 1973: "Não é o candidato que vai percorrer o país, é o anticandidato, para denunciar a antieleição, imposta pela anti-Constituição".
O general Ernesto Geisel prevaleceria sobre Ulysses no colégio eleitoral por 400 votos contra 75. Mal comparando, dá-se coisa parecida no Senado de 2011. Sarney, agora um morubixaba do PMDB, tornou-se, por assim dizer, um candidato fluvial. Todos os partidos com assento na Casa escoaram, em movimento lerdo e passivo, para o colo de Sarney.
Não fosse a decisão do PSOL de nadar contra a maré, Sarney seria unanimidade. “Pelo menos dois votos nós teremos”, diz Randolfe. Sua conta inclui, além do próprio voto, o de sua única colega de bancada, a recém-eleita Marinor Brito (PSOL-PA). “A anticandidatura não é um gesto fortuito, impõe responsabilidades”, diz Randolfe. Mirando-se em Ulysses, o PSOL deseja como que denunciar uma “antieleição”.
Além do canudo de historiador, Raldolfe é bacharel em Direito e mestre em ciência política. Embora neófito nas artimanhas do Senado, parece dominar a simbologia da Casa. Ele resume assim a mensagem de seu partido: “Nos últimos quatro anos, o Senado viveu uma gravíssima crise ética e moral...” “...Seria importante que os senadores sinalizassem para a sociedade alguma preocupação com a mudança. Nós não acompanharemos a maioria”.
Sarney caminha para a tetrapresidência sem o inconveniente de ter de debater um programa para sua “nova” gestão. Para diferenciar-se, Randolfe esgrime uma plataforma que, no mínimo, lembrará aos 81 senadores que, se quisessem, teriam o que fazer. Consiste em quatro pontos:
1. AUTONOMIA: “O Senado tem de ser protagonista da cena política, independente e autônomo. Não pode ser Casa de recepção de medidas provisórias. As que forem aceitas, tem de respeitar os preceitos constitucionais de relevância e urgência”.
2. FISCALIZAÇÃO: “O Senado, assim como a Câmara, tem a obrigação de exercer a nobre atribuição constitucional de fiscalizar os atos do Poder Executivo”.
3. ÉTICA: “O Senado não pode fingir que nada aconteceu. A Casa tem de passar por uma profunda reforma ética: transparência de todos os atos e nomeações, contas na internet, tudo submetido ao controle público”.
4. REFORMAS: “Queremos agilizadar as reformas política e tributária. Não reformas de interesse dos políticos, mas da sociedade. O Congresso não pode ser presa do Executivo. Sua agenda tem de ser a agenda do Brasil”.
Segundo Randolfe, o PSOL não é movido a caprichos. O partido se dispõe a apoiar “outro candidato mais viável, que encarne a mudança”.
Nesta sexta (28), o próprio Randolfe abriu diálogo com colegas de outras legendas. Procurou Lindberg Farias (PT-RJ) e Cristovam Buarque (PDT-DF).
Egresso do movimento estudantil, Randolfe conhece Lindberg da UNE. Os dois pintaram a cara e foram ao alfasto pelo impeachment de Fernando Collor.
Hoje, porém, Lindberg está noutra. Integra uma megacoligação que inclui Collor e, sobretudo, Sarney. Disse que não tem como divergir da posição oficial do PT.
Cristovam, ficou de fazer consultas. A legenda dele, o PDT, compõe a mesma supercoligação. Seu mandachuva, Carlos Lupi, chefia o Ministério do Trabalho. “Se o diálogo não prosperar, o PSOL terá candidato. Está resolvido”, diz Randolfe, em timbre peremptório.
Sabe que não tem a mais remota chance de prevalecer sobre o candidato fluvial. Mas deseja borrifar na corrente pró-Sarney palavras incômodas:
“No mínimo, o Senado teria de fazer uma autocrítica. Tudo está acontecendo como se nada de extraordinário tivesse ocorrido aqui. A sociedade espera mais”.
Fonte: JL/por Josias de Souza

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